7 de novembro de 2008

carta testamento de um autor defunto a ser lido no sepulcro

Hora de ir afundado
Engatar a zero... zerar... as horas.
Suflar aliviado o corpo que não liberta também. Hora do mergulho terminal
Na sede que me afoga o ar na “goela”, a vala...
Tristeza pouco insiste na fala... é proa antiga em água lavada.
É um sorriso nos dentes e um correr infante.
Quando eu quiser correr por entre a vida...

escorrem...velas...

É a palavra o maior do risos emersos.
Palavras presentes nos pertences libertos do eu senhor...
Palavras presentes nos sons e incertezas do meu penhor.

Devo tanto quanto nego. A cara mal lavada não engana, pois.

Deixo a moratória para ser sustada das palavras que deixo sob a cômoda.
Palavras simples como não fui, palavras sem glória lapidadas neste enfermo.

Nossas certezas não têm fala, guarde isto no baú e ofereça aos filhos...
como um beijo de pater na testa, como um batismo.
Dê minhas palavras “aporia”... (termo para a não solução)

...escorrem...velas...

Num mergulho final, sacio a sede num desafogo do afago de palavras mudas.
Escorro e escorrem velas, maquiado imerso em túnica em fim de socorro.

Criança que virá em meu lugar, uma fala terna a me salvar deste dilúvio...
valentia.

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