25 de abril de 2008

Autobiografia de Ponta

Se você não fosse ninguém e eu pude ser alguém que não sou, e não fosse eu mesmo, seria você e diria:

se eu fosse você, não seria.

Seria última a chance de eu ser ninguém, e você não ser quem és e então me ser um pouquinho pra ver se sentes que sou eu em você e você não sou.
Sou só e só sou:

aquele que me tole,
que me aconselho.
Quem me dorme,
me julga no espelho.
Apaixonado pela existência,
dois e suas variantes.
Curioso no que tange essências concretas
da subjetividade e vice-versa.
Um vivo, ousadamente dizendo-se vivo, talvez um que pense
que de fato pensa.
Vivendo o vento, e os olhares, os medos, a cidade, e um amor sem antes.
Vendo um pedacinho de si em quase tudo e na "piquena".
Vindo de encontro à distante complitude.
Um vivo Vinícius, enviezando vícios em virtudes.

Pirquena

Pedi pelo afago das flores. Colhi-me em migalhas, guardei-me em “Piquena”, nas veredas dela.
Penso logo me emociona existires singela.

Amores vários te vestiam, juntei os retalhos.
Dos pássaros retirei o canto. Despi-me da razão, falso manto.

Na malha que teci, pouco cabe. Cabe o canto que canto para ela:
- que a encontrei quando não quis
mais procurar o meu amor.

”Piquena” nua, sorrindo, cabe em minha malha,
pura, flor criança.
Mulher a ser servida
Com o carinho do recital dos pássaros ao sol surgir entre as montanhas.

Cabe um juramento e cabe que te cubras que lhe é direito:

- Que eu te sirva, pois flor, marés, alvorada, lua cheia e o cochicho das estrelas
às três da madrugada, foram criados à sua semelhança.

Me balbucie assim mais amanhã e amanhã direi o mesmo.
”Piquena” batendo contra as ondas:

- Me leva, me embala e me consome um saculejo dos dias à espera dos anos.
Seja meu anjo “Piquena" e será minha, eterna Primavera.