1 de março de 2007

Descalço em Brasa

Tiro as meias para poder andar descalço, as coloco para fazer o medo do escuro passar e ir dormir. Dormem também as menininhas dopadinhas ao vagar no asfalto, de sobressalto as pupilas enxugam a sangria. Agacham-se, e imploram, e pagam de joelho, e passam, e alisam, e o nojo que antes subia morno pela goela, e que fazia também antes ruminarem estas vaquinhas sapequinhas quando eram apenas bezerrinhas sabidinhas , agora é parte do jogo, ânsia tolerável, trocável pela fração de cápsulas, de mato, de fumaça, de tudo que se cuspa, que se engula, de tudo que se masca, de tudo que encha as bochechas enquanto se apalpa, se alisa, se engana. Da cama pro “narco”, do teco pra cama. O tico-teco se esvazia, esperneia, reclama de barriga cheia e sai pra passear descalço.

João Rafael Candia Athas/Vinicius Andrade Vieira