23 de julho de 2008

Fui te buscar neste lugar amigo, voce nao veio..

A solidão que queima como um centavo

revira e revive ardente

à fração quente de fazer virar brasa o cigarro.

Com paixão se apunhala o amargo do não amor estendido

no chão abatido do quarto de prostíbulo,

com decoração de escravas.

Uma senzala aonde as luzes se apagam

assim que afagam os trocos,

sai vestindo-se aos trapos do flagelo dormente

e volta-se para casa.

A chama das palavras se reacende

com o uso desnudo, do feminino,

e dos meninos que brincam em canoas

semi-afundadas no cais de porto;

saias rodadas e bolsas curtas das meninas

semi-adultas, também a brincar com os senhores do paço,

semi-adúlteros, sem esconder a culpa dos passos regressos,

exalantes odores de vulva.

Seguem-lhes certa madrugada as semiviúvas

cansadas de maltrato. E choram, e se conformam, e se lamentam ao poeta

que deparam vestindo a rabeca ao sair da escuridão do beco, da boca do beijo

que fizera apagar as velas.

Tropeça-lhe uma lágrima desejosa de vingança e outro de cortejo.

As palavras se reascendem, derretem cera, que seca fria

em um candelabro de mazelas.

Sr Escritor: deite as palavras no lenço branco,

ao deixar a esposa cornada na porta de casa;

seque o pranto sem asas e enxugue o lirismo do poema franco,

que se conclua como quiser.

14 de julho de 2008

Retrato do Festival

Peguei a condução, desci a serra.
Intelectuais já estavam prontos para o abate
A cidade pronta para lucrar
Último dia do Festival.

Fim de tarde
Dezoito horas e meu atraso
sábado de ruas pálidas
Mais um sábado e a cidade é um nojo

Choveu aos meus pés quando sai de casa
não vi gota, compunha meu retrato silábico
minha mente registrava adjetivos
que qualificassem o que vi.

Ninguém mais vê nada
O mundo roda impacientemente agora
O sol sai cedo e se põe mais tarde
meu sábado escorre, é escarro.

Passos no cimento
não vejo o que me envolve o pensamento
tenho um cascalho, tem um guri com fome,
tem o aquecimento do mundo

O sol hoje bebe café e produz manchas
não olho para o lado
sou vaidoso e culpado
sou o assassino doloso do sorriso

Estou isento da nudez da lua dourada lá no céu
Vim, li e me isolei
saio para caminhadas noturnas à lua de prata
E não participo muito das calçadas.

As garras rasgam o peito
Os cantos de socorro estão em todos os becos
Nobres, médios, intelecto médios e populares
a cidade de sábado é leito.

Os artistas estão no palco
pedindo penico
e clamando o coro
o povo geme para a foto.

Todos trôpegos
O meu amor trôpego me deixa para trás e clama
clama a chance de se juntar ao coro
Desaparece na multidão, eu penso nas palavras

As linhas escorrem tinta
a tinta é minha virgem nua
grita manuscrito o arrombo, soluça choro salgado,
o retrato da cidade precipita.

O sábado não vem salvar o descanso do domingo,
ninguém irá salvar aquele guri faminto,
o sol é uma locomotiva incontrolável,
só nos resta o sorriso que matei.

O que nos resta são as virgens,
a tristeza nas ruas
e o submundo das danças de sábado à noite.
Meninos, meninas: - Digam Xis...

3 de julho de 2008

Prato

Cocada às uvas;
manjares no banquete.
Uns brindam a cevada,
uns são servidos à calda turva.

Servidos ao sangue,
é sempre o sangue.
A busca,
a causa e consequência puta.

O fim dos dias não está por vir,
já fora, já era, jaz entre os profetas.
Somos sensações em trânsito desde então,
sangue em ressonância dele.

É a carne, o doce, o vício, a cópula.
Ele se senta na ponta da mesa no jantar. Ele,
no banquete da vida nos venda.
Sua presença é o gatuno guia.

- É o sangue, é o sangue em êxtase!

Não ouse falar o nome dele.
O Riso em você na hora da fúria.
O abraço terno dos males do mundo.
É o sangue, doce sangue alheio....